Você já parou para pensar quem realmente cria as tendências? Será que são os influenciadores que nos inspiram diariamente com suas postagens nas redes sociais? Ou será que somos nós, os consumidores ávidos por novidades, que ditamos o que está na moda? Qual a qualidade do conteúdo propagado? Essas são questões que valem à pena ser levantadas, uma vez que o advento e a proliferação dos "influencers" aparecem como fator cultural relevante na contemporaneidade. É importante ressaltar que o papel da indústria do entretenimento tem farto desempenho na modelação de pensamentos e atitudes, mas este é assunto para um próximo texto.
Vivemos em uma era na qual as mídias sociais desempenham um papel fundamental disseminando informações (verdadeiras ou não), formando opiniões e moldando comportamentos. Os influenciadores digitais conquistaram um espaço privilegiado nesse cenário, acumulando milhões de seguidores. Mas até que ponto os "influencers" são os mentores das tendências?
Ao analisarmos mais atentamente, percebemos que a relação entre influenciador e influenciado é mais complexa do que parece. Os influenciadores estão constantemente em busca de conteúdo que capte a atenção do público, a fim de despertar emoções, utilizando gatilhos mentais e vieses cognitivos para reterem a atenção. Estejam os lados conscientes ou não dos mecanismos, é por meio das emoções que se processa a dopamina, o hormônio do prazer.
Entretanto, essa busca incessante por likes e seguidores pode comprometer a entrega de conteúdos relevantes e úteis. Muitas vezes, nos vemos presos a um ciclo vicioso de consumir informações superficiais, que não nos agregam valor, mas que ativam nossos centros de prazer e nos fazem consumir mais destes conteúdos. A dopamina se torna uma droga virtual e ficamos dependentes dela.
E o que acontece com a criatividade nesse contexto? Será que seguir tendências é sinônimo de falta de originalidade? Nem sempre. Alguns influenciadores são verdadeiros artistas, capazes de transformar o comum em algo extraordinário e podem ser considerados criadores de conteúdo digital. Eles têm o talento de captar a essência da cultura e reinterpretá-la de maneira única. Porém, infelizmente, a maioria acaba se rendendo à reprodução de técnicas e fórmulas que garantem likes, esquecendo-se da autenticidade e da qualidade em termos de acréscimo intelectual, artístico, ético, político ou minimamente informativo.
Ao seguirmos cegamente as tendências seja como influenciadores ou influenciados, corremos o risco de nos tornarmos meros espectadores passivos de uma cultura rasa e fugaz. Estamos perdendo a oportunidade de nos expressarmos de forma genuína e de contribuir para o enriquecimento da nossa sociedade. Afinal, não são as tendências que devem definir quem somos, mas sim a nossa organização coletiva, nossas escolhas individuais e o impacto que causamos no mundo ao nosso redor.
Portanto, buscar uma reflexão acerca das tendências a seguir e no que elas podem nos anular enquanto seres pensantes e dotados de liberdade é fundamental. É necessário identificar quais trilhas virtuais são relevantes de fato e dentre elas, as que são apenas modismos passageiros, para utilizarmos esta análise no repensar nossas bases de construção do sujeito. Ao exigirmos conteúdos mais profundos e significativos, podemos incentivar uma mudança de paradigma nas redes sociais. Devemos buscar por informações que nos desafiem, que nos instiguem a refletir e a questionar o status quo.
Apresenta-se como atitude de suma importância valorizar as diferentes formas de expressão e as vozes não alinhadas com as tendências dominantes. A diversidade é o que enriquece a nossa cultura, e é através dela que surgem as verdadeiras inovações e transformações. Seguir tendências pode até ser divertido, mas não podemos deixar que isso se torne uma prisão para nossa criatividade e autonomia. Faz-se necessário buscar inspiração em lugares inusitados, em ideias que desafiam o senso comum, em movimentos artísticos, sociais, intelectuais, etc. Devemos nos tornar protagonistas da nossa vida e do pertencimento à uma vida autêntica em comunidade, seja nas redes ou no cotidiano presencial, influenciando tendências, bem como pessoas ao nosso redor.
Da próxima vez que você se deparar com uma nova tendência, pergunte-se: ela realmente representa quem eu sou? Contribui para o meu crescimento pessoal e cultural? Representa as raízes da minha comunidade e do país ao qual pertenço? Ou é apenas mais uma futilidade passageira e reforço da ideologia dominante? Lembre-se de que a verdadeira influência está em criar, questionar e promover mudanças significativas e includentes, não apenas em seguir o fluxo. Abraçar a criatividade, o pensamento crítico e a originalidade é um caminho possível para escapar das armadilhas das tendências superficiais.
Vídeo do YouTube para Pensar "A Social Life":
Documentário recomendado:
"The Social Dilemma" (Disponível na Netflix). Este documentário revela os bastidores das redes sociais e como elas influenciam nossas escolhas, comportamentos e até mesmo nossas opiniões.